domingo, 4 de janeiro de 2009


Receita de Ano Novo
Carlos Drummond de Andrade

(Discurso de primavera e algumas sombras, 1977)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas 

nem parvamente acreditar que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.


É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.


Que cada um permaneça acreditando em si mesmo, na sua inteligência, coragem e capacidade para ser um profissional bem sucedido. 
Eu desejo, que o amor e a sabedoria o levem a estabelecer, em todos os lares, um ambiente familiar equilibrado, seja na relação dos pais com os seus filhos, seja nas relações dos filhos com eles mesmos.
Que, com a presença madura, paciente e amorosa dos pais, eles sintam que são amados e que lhe retornem todo o amor que receberem.

Eu desejo, que cada um encontre e estabeleça o equilíbrio afetivo e emocional. 
Que encontre a pessoa que seja a ressonância para uma parceria sustentada nos pilares do amor recíproco. 
Que nessa pessoa cada um encontre motivos e motivação para investir, sem medo e com vontade, no dia a dia da vida a dois. "Não é bom que o homem esteja só", pensou Deus. 
E criou o semelhante, para ser a seu companheiro, para que o outro não se sinta só. Percebe a profundeza deste pensamento divino? 
"Não é bom que o homem esteja só". 
É muito mais do que ter uma companhia
 ao seu lado. 
É criar laços fortes e duradouros com o parceiro. Se assim não for, ambos estarão sós.

A nossa vida, basicamente, transcorre ao longo de duas vias paralelas: a afetiva e a profissional. Quando a afetividade não vai bem, todo o restante fica contaminado.

Do alto do sucesso profissional, não há como deixar de vermos a outra via paralela, a da afetividade, e percebermos os vazios que ali criamos.


Que gosto tem o sucesso, se a alma estiver vazia de afetos verdadeiros?

Eu desejo, um NOVO ANO NOVO pleno de afetos verdadeiros.


Janeiro de 2009