segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Eu já tive um cão Fila, e, para quem ama cachorros será fácil compreender este artigo, para quem é indiferente a eles, será meio complicado, para quem os detesta, será impossível. Seu nome era Helga, cadela de personalidade única e lealdade incomparável, uma gigante, no verdadeiro sentido da palavra. Vivi com ela por alguns maravilhosos anos, houveram sim aqueles dias em que eu me perguntava. Será que eu regulo bem? Toda essa sujeira, essa cocozada maior que um monte de areia? Será que vale a pena? Mas no exato momento que meus olhos encontravam aqueles olhos cor de mel, que tinham a capacidade de me fitar profundamente, como se lessem minha alma, eu descobria que era a mais lúcida das pessoas, e que sim, o trabalhão vale a pena,quando é pago com todo aquele amor incondicional que me era dado. Existiram momentos maravilhosos em nossa vida juntas, era impossível permitir que a chateação de um dia de trabalho meio errado persistisse ao chegar em casa e ser recebida por aquela gigante que parava na minha frente me pedindo um carinho, somente um cumprimento de boas vindas, só para me dizer que estava ali, e que eu era importante em sua vida e sempre bem vinda. Os raros passeios pela rua, as vezes que sentávamos juntos a fazer absolutamente nada, as brincadeiras, os momentos que ela realmente precisou de mim, quando estava dodói. Tudo isso está gravado em minha mente, mas os acontecimentos que estão profundamente gravados em meu coração, são os momentos em que eu precisei dela, e foram muitos. Quando eu estava sozinho, tristonho, ela foi minha companheira, sentava a meu lado em silêncio, para me consolar, mesmo que a sua maneira. E hoje depois de algum tempo eu descubro, não existe melhor maneira que esta, pois na verdade quando estamos tristes ou sós, não é conselho o que queremos, não é alguém nos lembrando que existem dores maiores que as nossas, nem aquelas frases batidas tipo: Você vai sair dessa, você é forte, já passou por coisas piores. O que queremos na verdade é companhia, é saber que existe alguém que se importa a tal ponto conosco,que não se incomoda de passar um dia inteiro se preciso, sentado a nosso lado,sem dizer palavra, só para nos dar a certeza que não estamos sós. E é esse tipo de doação que talvez só entenderão aqueles que já tiveram ou tem um grande cão, porque é estranho ver um cachorro tão grande e saber que ele não ataca ninguém, não é brabo, assusta somente pelo tamanho, mas é o melhor amigo que alguém pode sonhar em ter. Por tudo isso em muitos dias, principalmente nesses dias em que a chuva teima em cair insistentemente, eu lembro com mais intensidade ainda da minha grande amiga e companheira. E então me bate uma saudade doida, e eu me sinto só. Ela se foi, já faz quase um ano, e mesmo assim ela ainda me faz muita falta, mas confesso sem nenhuma vergonha, vivi anos na melhor companhia que alguém pode viver, e tive a melhor amiga que alguém pode ter. Por isso eu vou dizer sempre com muito orgulho e saudade.